21 de fevereiro de 2010

Sentidos Secretos

O poder do nosso sistema senso-perceptivo que é formado pela relação entre cada um de nossos cinco sentidos e suas capacidades em captar a mais sutil informação, seja ela externa ou interna, somada à comunicação destes estímulos junto ao Sistema Nervoso Central e a resposta deste último ao estímulo por ele decodificado, é impressionante.

Com essa idéia na cabeça, fico me lembrando daqueles programas do Globo Repórter nos quais assistimos as imagens holográficas de milhões de ondas eletromagnéticas correndo em milésimos de segundo através de circuitos neurais evoluídos. Me lembra também um professor que tive no primeiro ano de faculdade  e que se esforçava em interpretar os movimentos neurais e pra isso utilizava-se,  inutilmente, de braços, gestos e corridas, melhor seria se ele passasse uma daquelas reportagens, enfim.

Esse interessante tema, sem dúvida, desperta em mim o desejo de entender melhor como se dá este processo, mas tem outro aspecto desta ciência que me encanta infinitamente mais.

Penso que, embora seja através da identificação consciente a que chamamos percepção que transformamos fótons em imagens, vibrações em sons e ruídos e reações químicas em cheiros e gostos específicos, a percepção do mundo por meio dos nossos sentidos não depende exclusivamente do aparelho sensorial, na medida em que o cérebro extrai informações e as interpreta em função da associação de experiências anteriores.

Em outras palavras, o processo de decodificação do estímulo realizado pelo SNC está sujeito ao nosso arcabouço emocional originário da nossa história de vida e da nossa personalidade. Desta forma, gestos, ações e pensamentos, movimentos sutis ou grandiosos, o olhar fixo ou distraído, bem como o fechar dos olhos, as torções da coluna, dos pés e dos punhos, as inclinações corporais e sorrisos, as lágrimas e as expressões faciais que acompanham cada um destes movimentos, podem tornar-se sinais cheios de sentidos secretos e sons inaudíveis, na medida em que são percebidos subjetivamente por cada um de nós.

Numa situação de testagem, o fenômeno que diz respeito a percepção submetida à interpretação do receptor ao estímulo é chamado de Apercepção, no sentido de que cada prancha (figura apresentada em testes projetivos) pode ter diferentes significados para cada pessoa que entra em contato com ela e pode proporcionar o aparecimento de idéias nunca antes conscientemente imaginadas, inclusive pelo próprio testando.

Assim, vemos que tanto a expressão de uma certeza como a de um talvez, poderão ser cridas ou desconsideradas de acordo com o o tipo de linguagem que representarem ao outro: claras e secretas, surdas ou sensíveis, dúbias e indubitáveis, dizeres complexos.

Atitudes que vão além do que os sentidos humanos podem apreender e ultrapassam a capacidade de codificação do próprio ser que o provoca. Um mistério com amplitude tamanha que se mostra impossível de ser completamente analisado. Uma colcha de retalhos multicolorida, cheia de imagens, cheiros e sons, que juntos constroem emaranhados de pensamentos e sensações.

Ao meu ver, o que temos a nosso favor num movimento de tentar sanar interpretações irreais, numa esfera mais superficial do psiquismo humano é a comunicação, já que sua qualidade interfere profundamente no processo interpretativo. Num campo mais íntimo, o auto-conhecimento, que colabora para que as nossas confusões cessem de interceptar os estímulos a nós dirigidos.

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