29 de junho de 2010

Todas transpiramos pelas mesmas coisas

Estava pensando o quanto este slogan da nova propaganda da Rexona, estrelado por Camila Pitanga, diz a nós mulheres.

Quando assisto a ela, me lembro da pesquisa na qual estou envolvida (meu TCC), cujo tema é: Mulher Contemporânea: As pressões sociais e sua subjetividade.

O objetivo deste estudo é investigar as concepções da mulher contemporânea: casada, com filho(s) e profissionalmente ativa, na tentativa de compreender sua forma de ser diante da manutenção do lugar do feminino.

Outros aspectos observados foram os fatores estressantes contidos nesta realidade, bem como os ganhos de ter uma vida social potencialmente mais ampla, em termos pessoais e profissionais, comparados aos de épocas anteriores.

Foi muito gostoso entrevistar estas mulheres e ouvi-las contar pelo que transpiram, todas pelas mesmas coisas, certamente: tempo com os filhos, prazos profissionais a serem cumpridos, cuidados pessoais, relacionamento conjugal, criatividade e energia extra para lidar com o mito de beleza da sociedade contemporânea e uma intensa preocupação em não abandonar seus sonhos familiares, que incluem o desejo de ter outros filhos, embora este sonho seja deixado de lado, em alguns casos, por causa do receio de não dar conta de um quantum extra de suor.

Mas esta é apenas uma porção de toda população feminina mundial a experimentar realidades jamais pensadas antigamente. Ao todo somamos milhões de gandulas sudoríparas, ativadas pela determinação e garra femininas.

Sem esquecer que, durante muito tempo a nossa expressão esteve bloqueada pelo machismo que nos calava com suas regras discriminatórias, promovendo´, inclusive, a extinção da possibilidade de desejar e de se queixar.

Apesar de hoje vermos destacada a importância da representação social feminina, muito ainda há para ser conquistado. Meu desejo é que nesta caminhada possamos ter mais suor do que lágrimas.

Leia sobre o tema::

ARÁN, M. Os Destinos Da Diferença Sexual Na Cultura Contemporânea. Revista Estudos Feministas, July/Dez 2003, Vol 11, n.2, Florianópolis. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-026X2003000200004&script=sci_arttext&tlng=in

CORREIA, G. B. Sexualidade e Maternidade: “nós” e “laço” de um fenômeno cultural. Revista Brasileira de Sexualidade Humana, 1997, nº 1, v8, São Paulo. Disponível em: http://www.adolec.br/bvs/adolec/P/pdf/volumes/volume8_1.pdf#page=11.

SOUZA, D. B. L.; FERREIRA, M. C. Auto-estima pessoal e coletiva em mães e não-mães. Psicologia. Estud. , [online]., vol. 10, n. 01, pp. 19-25. ISSN 1413-7372. Maringá, 2005
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-73722005000100004&script=sci_pdf&tlng=pt

ROUDINESCO, E. A Família em Desordem. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2003

WOLF, N. O Mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Editora Rocco LTDA. Rio de Janeiro, 1992.

27 de junho de 2010

Óidipous (Édipo), filho de Laios

Na última sexta-feira, fui assistir ao espetáculo teatral: Óidpous, filho de Laios, uma transcrição do texto de Sófocles: Édipo Rei.

Entende-se por transcrição a criação que se dá a partir de uma tradução de tal forma seletiva, que produz um texto original.

No caso desta peça, assistimos a uma interpretação de ordem Psicanalítica e Filosófica da estória de Édipo, baseada, porém, num ponto de vista diferente do de Sófocles: centraliza a maldição herdada por Édipo dos atos de Laios, seu pai, e aborda a ignorância do filho diante dela, fazendo uma interessante relação entre o enigma da esfinge e o significado de seu nome.

Outro detalhe que diferencia o texto é apresentação do oráculo de Delfos como a representação do que se encontra inscrito no inconsciente e que permanece obscuro, embora insista em ressurgir e se ver cognoscível e satisfeito, num mover próprio do recalcado.

A peça mistura conteúdos gregos, como algumas palavras usadas no roteiro, e figurino, segundo o autor, inspirado nos índios do Xingu.

Em termos estéticos, esta é uma produção bastante interessante, o visual indígena se destaca em corpos definidos e expressões corporais que misturam leveza, intensidade e delicadeza, esta última distinguida em movimentos expressivos de mãos que se sobressaem aos rostos escondidos por máscaras e pinturas.

Esta mistura de linguagem, figurino, expressão corporal e a música – algumas vezes barulhenta demais, foi o que me ligou ao espetáculo, despertando mais conteúdos inconscientes do que o próprio roteiro, prejudicado por uma preocupação, aparentemente intensa do diretor, em garantir a impossível obviedade do simbólico.

Esta composição teatral peca naquilo que deveria ser sua principal estratégia: deixar que o latente atue no papel principal de maneira a possibilitar aos espectadores insights talvez suaves, embora não menos poderosos, do que o ruído mudo que toma conta do nosso psiquismo diante das diferentes formas de expressões artísticas.

A sensação que eu tive, foi que alguns detalhes desta produção, como as duas explicações contextuais dadas pelo diretor no começo e no meio da apresentação e a inclusão de uma piada sem graça, além de um palavrão atual e pouco harmônico ao conjunto, impediram que instintivamente percebessemos a oscilação afetiva que uma boa composição teatral nos provoca.

É como se a produção tomasse o papel de um ego frágil que se defende para impedir elaborações que parecem ameaçar a segurança da costumeira estagnação que tenta defini-lo a todo instante.

Enfim, o espetáculo poderia ser bem mais tocante, não fosse a aparente preocupação didática (e intrusiva) do seu criador ao que se refere aos conceitos e à compreensão Psicanalítica.

No final do espetáculo, dois psicanalistas discutiram a produção, que de muito longa, acabou provocando a saída da maioria dos espectadores e deixou a platéia quase vazia nesta hora.