21 de março de 2010

Plantão Psicológico

Há três semanas fiz meu primeiro atendimento no Plantão Psicológico na Universidade. Em termos logísticos, o Plantão Psicológico funciona em horários determinados, sem hora marcada, basta que se vá até a Clinica da Universidade para ser atendido por um estudante do 5 ano de Psicologia disponível.

Esta modalidade de atendimento foi desenvolvida por um grupo de psicólogos, professores da USP, e tem como orientação teórica a Fenomenologia Existencial.

O Plantão Psicológico consiste num atendimento que pretende acontecer num único encontro – podendo incluir um segundo se o psicólogo entender necessário, objetivando lidar com a demanda emergente do cliente, levando-o à abertura para novas possibilidades ou escolhas. Um olhar diferenciado para as situações e para si mesmo em meio ao sofrimento psicológico.

Os plantões começaram com a intenção de suprir uma demanda social significativa formada por pessoas que, embora necessitem de atendimento psicológico, não se adéquam ao modelo de psicoterapia tradicional, seja por falta de disponibilidade ou mesmo por falta de interesse.

O grupo de psicólogos que desenvolveu esta modalidade de atendimento percebeu que, em algumas situações, o sofrimento que trazemos se configura a partir de questões pontuais que podem ter diminuído o seu teor de impossibilidade através de um verdadeiro encontro humano que permita a expressão da nossa dor.

Uma curiosidade é que o nome Plantão Psicológico, diferentemente do que muitos posam pensar, não tem para os psicólogos existenciais o sentido comumente utilizado da palavra Plantão – alguém cumprindo um horário específico realizar um atendimento, como um Plantão Médico, por exemplo. Diz a lenda que os primeiros encontros (atendimentos) acontecidos no Campus da USP se deram debaixo de uma árvore, uma planta grande ou um plantão e, embora obviamente o duplo sentido da palavra estivesse presente durante sua escolha, os seguidores da Fenomenologia Existencial preferem a primeira conotação, que favorece empregar ao atendimento um sentido humano e atento ao outro, bem como considerar o fato de o psicólogo ser afetado pelo outro, o que configura um modo de ser-com.

Além disso, não podemos ignorar o fato de este grupo de psicólogos detestar qualquer tipo de associação com o modelo médico e, também por isso, enfatizar o sentido de encontro e de disponibilidade destes atendimentos.

Para a Psicologia Existencial este encontro diz da possibilidade de pertencer, de autenticar aquilo que é seu e se deparar com futuras possibilidades que se abrem, quebrando a mesmice do antigo ser-no-mundo e a rigidez do “tem que” se assim, que muitas vezes nos aflige e nos aprisiona. Um encontro que me impulsiona adiante, à escolhas autênticas por meio de um caminho de busca de respostas, marcado por interrogações estritamente pessoais.

O início de uma nova jornada, sustentada pela liberdade que pode delimitar mais claramente uma ruptura com o “de sempre” e assim, demarcar o pensamento de pertencimento, permitindo que reconheçamos a jornada de hoje inserida na trajetória de vida. Em suma, o encontro proporciona o prazer de mim mesmo como ser-ai de maneira legítima e de uma auto-percepção real que me diz desta possibilidade de pertencer.



                                                “É quase de uma insustentável leveza. E a gente volta e nada está como antes. Mas, ainda assim, posso me reconhecer naquilo que está diferente”. H. Morato