11 de fevereiro de 2012

A Linha da Vida em Orientação Profissional

Há tempos a produção de livros e artigos sobre a biografia de celebridades tem despertado o interesse de jornalistas e escritores, por outro lado, pessoas comuns encontram o espaço para rever suas histórias de vida em atendimentos psicanalíticos, no interior dos quais encontramos tradição no resgate de vivências passadas que cooperam para a reflexão sobre comportamentos atuais.

Porém, este mesmo foco interventivo tem adentrado outros espaços nos últimos anos e tomado formatos mais estruturados. Trata-se de uma ferramenta conhecida por ”Linha da Vida” (também chamada de “História de Vida” ou “Documento Biográfico”) que tem a intensão de realizar uma revisão da história de vida da pessoa da maneira mais completa possível, favorecendo o processo de reedição de si mesmo, na medida em que fortalece ou desenvolve o sentimento de pertença (reconhecimento) e implicação (trocas/relação) sociais.

A “Linha da vida” traz a existência uma narrativa de sentido para a história do indivíduo. Um sentido que ao mesmo tempo é fluido e factual (cronológico) dado pelo próprio indivíduo, por meio de sensações e conexões que levam à incorporação de experiências subjetivas mescladas a contextos sociais. A “Linha da Vida” pode ser produzida na sessão junto com o psicólogo que poderá intervir sobre comentários e afetos importantes ou fatos narrados que possibilitem associações com questões trazidas anteriormente, mas também pode ser feita pelo paciente em casa e depois trazida à sessão, neste caso, o psicólogo pode sugerir que a própria pessoa escolha as lembranças mais marcantes para narrar e refletir a respeito. De modo geral, o paciente é estimulado a buscar dados com outras pessoas próximas ou familiares.

Me interesso muito pelo uso desta ferramenta em atendimentos em Orientação Profissional e de Carreira, pois percebo que o indivíduo se beneficia não apenas em termos profissionais, mas também pessoais e familiares. Entre os ganhos possíveis podemos citar o autoconhecimento (identificação, reflexão e elaboração sobre conteúdos internos) e, por isso, o fortalecimento de seus recursos egóicos.

A “linha da Vida” em OP também promove a reflexão sobre as trajetórias profissionais das pessoas, podendo desencadear mudanças sobre o “coping” (SUPER,1960) utilizado pelo indivíduo em situações diversas. Vale ressaltar que não se trata de uma anamnese, mas sim de investigações e interpretações feitas pelo viés da história de vida, a fim de conhecer conteúdos psíquicos que habitam a zona de intersecção do individual com o social, permitindo que elementos do agora evoquem outros mais antigos e desperte o interesse pelo futuro.

Durante o processo é comum acontecer de a pessoa tomar consciência sobre comportamentos inadequados aos sonhos pessoais/profissionais; sobre a importância exacerbada ou insignificante a momentos, a respeito de relacionamentos ou fatos de sua vida; sobre repetições disfuncionais e fantasias inconscientes, bem como a tentativa de ressignificar experiências diante de tais descobertas.

Pensando no futuro, a técnica pode substituir um planejamento tradicional, por meio da projeção do futuro na continuidade de sua “Linha da Vida”.