3 de novembro de 2009

Epílogo do livro: Nunca lhe prometi um jardim de rosas, by Deise Navarro

Era uma típica manhã de primavera. Deborah podia sentir o ar fresco que entrava pela fresta de sua janela e parecia energizar seu corpo todo ao ponto de despertá-lo. Ao descer do seu antigo quarto, viu a mesa pronta e o cheiro de café lhe abriu o apetite.
- Bom dia querida, dormiu bem? Perguntou Esther.
- Sim mãe, muito bem. Respondeu Deborah sentando-se à mesa.
- Oi filha! Jacob parecia bem desperto, pudera, havia acordado há muito tempo. Tempo suficiente para aparar a grama e organizar algumas coisas na garagem.
Deborah não sabia por onde começar, bolos, pão fresquinho, - Que delícia, tentarei não exagerar! Lembrou-se de su
a dieta. Continuou a conversa trivial com a mãe, até que Suzy entrou na cozinha. Sua presença interrompeu o diálogo e ambas foram em sua direção.
- Parabéns maninha! Hoje é um dia especial! Disse Deborah enquanto a abraçava.
- Nossa filha, como estou feliz por você! Se o vovô estivesse aqui...! A mãe nem bem terminou de falar quando Jacob entrou e foi em direção à Suzy e num forte abraço levantou-a do chão. Deborah e Esther se entreolharam e decidiram participar deste momento, num grande e cúmplice abraço em família. Após se recomporem, Susy disse:
- Debby!!! Tome logo este café! Ainda temos muitas coisas pra providenciar!
- Calma Suzy, vai dar tudo certo, ainda dá tempo! Disse Debby sem convencer a irmã que a puxou pelo braço e a levou, derrubando algumas gotas de café pelo caminho. Após entrarem em muitas lojas, a busca chegou ao fim, lindos sapatos que combinavam com seus lindos vestidos! E embora Debby tivesse receio de estar sendo egoísta, não pôde interromper as associações que passeavam, livres, em sua mente:
- Daqui há pouco tempo serei eu a comemorar! Imaginando sua própria formatura.
O dia foi de alegria e excitação, logo chegaria a hora do baile e Debby continuava a acalmar Suzy, bradando um confere! a cada item da lista da irmã.
Era fim de tarde, enfim, e Debby se olhava diante do espelho com seu vestido de gala, linda! Ainda imaginava o orgulho que Furii sentiria se a visse naquela hora, quando Suzy, explodindo de felicidade, entrou no quarto e a abraçou dizendo: - Que bom que você veio!
Chegando ao baile Deborah encantou-se com tantas flores, cores, luzes e a beleza das pessoas produzida por uma alegria compartilhada, era sua primeira participação num baile. Suzy foi ao encontro de suas amigas de sala para ensaiar os rituais tradicionais de bailes de formatura. A adrenalina que Deborah experimentava causava-lhe um prazer que nem os melhores anos em Yr poderiam proporcionar. – Minha irmã querida se formando! O orgulho não se limitava à formatura de Suzy, mas também ao fato de tê-la influenciado, de alguma forma, em se tornar uma Psicóloga.

Neste momento, um grupo de garotas veio ao seu encontro. - Debby!! Você veio?! Disseram sorrindo. Deborah sentiu seu coração disparar, suou frio e teve medo, mas respirou fundo. Não há perigo, pensou. Esta será uma noite de fortes emoções e eu escolho experimentar todas! Sentiu-se querida pelas garotas. Depois que se afastaram, lembrou-se do que Furii lhe disse um dia: - Pra quem supostamente fundiu a cuca! Nada mal mesmo esse talento para a vida! (p. 197) e sentiu orgulho de si mesma.
O baile durou a noite toda e a essa altura os pais das debutantes, em sua maioria bêbados, chegavam a cochilar nas mesas, na medida em que a música alta e animada dava lugar à melodias mais tranqüilas. Debby permanecia num canto do salão, enquanto Suzy e suas amigas estavam ao centro, diminuindo o ritmo da dança. Ao se perceber sozinha, começara a sentir um pouco de angústia e solidão, quando alguém tocou-lhe no ombro.
- Dança comigo? Disse um rapaz alto e simpático. Ao que Deborah respondeu: - Não levo muito jeito pra isso. Imaginando que assim, despistaria o rapaz. Diferentemente do que ela esperava, ele não desistiu: - Eu também não! Podemos tentar pisar o mínimo possível no pé um do outro, o que acha? Debby decidiu aceitar a mão que estava estendida diante dela.
No vai e vem da dança, seus pés pareciam nem tocar o chão e uma frase surgiu em sua mente: - Seja feliz Debby! Sorriu, sabendo que era ela mesma quem desejava aquilo!
Enquanto dançavam, ela se deu conta das mudanças que estava experimentando, já havia passado oito anos desde que saíra do hospital e, apesar de muitas vezes os sintomas quererem voltar, Deborah agora se conhecia bem, sabia usar sua pulsão de vida como ninguém! Seus estudos na faculdade de Artes Plásticas, juntamente com as duas sessões semanais de Psicanálise fortaleciam sua auto-estima e ela se amava cada dia mais.
Pouco a pouco a vida ia tomando mais espaço dentro dela e sempre que pensava no assunto, se convencia que havia feito uma boa escolha optando pelo mundo real, ainda que, depois disto, tivesse se apoiado muitas vezes na seguinte frase de Furii, para continuar em frente: “Nunca lhe prometi um jardim de rosas!” e Debby constatou que esta era uma verdade, embora sua tese pessoal dissesse que a vida era um lindo jardim, mas que suas rosas, apesar de belas, tinham espinhos que podiam ferir tanto quanto algumas queimaduras de pontas de cigarro. “O tumor” desaparecera definitivamente no penúltimo verão e sentia sua mente livre para estudar e estar perto dos amigos e da família. Trinta anos de vida! Lembrava satisfeita da festa surpresa que Suzy preparou em seu último aniversário. Hoje não vou precisar de algum sedativo?! Não sabia se devia perguntar ou afirmar. Decidiu então deixar pra lá seus pensamentos e aproveitar o momento. Envolvida nos braços do rapaz, cantarolava a linda música que tocava.