15 de abril de 2011

Setting e relação terapeutica

Setting é o nome dado ao momento da sessão em Psicoterapia e significa mais do que os 50min que paciente e psicólogo passam juntos, pois considera todos os fenômenos inconscientes que aparecem ali, entre eles a transferência e a  contratransferência.
Um contexto intenso no qual há a possibilidade de se estabelecer vínculos afetivos profundos de ambas as partes, o que é benéfico e esperado, mas que também permite a manifestação fantasias narcísicas e onipotentes, em função da impetuosidade emocional envolvida.
Ryad Simon, professor titular do departamento de Psicologia Clinica  do Instituto de Psicologia da USP, fala um pouco a respeito em seu livro: "Psicoterapia Psicanalítica: Concepção Original", ao tratar de uma questão comum na clínica que é o afastamento esporádico entre o paciente e o psicólogo, neste caso, especificamente, ele falava de uma paciente que iria ter bebê e estava com dificuldade em lidar com esta separação e, por isso, lhe pedia que que ligasse para ela e fosse visitá-la no hospital.

"Em minha opinião, o psicoterapeuta deve agir dentro dos limites do enquadre para não confirmar ao paciente que realmente é o unico que pode ajudá-lo. É de fato o unico que pode ajudá-lo psicanaliticamente; mas, nem só de psicanálise vive o homem. Há outras formas de ajudar que podem ser prestadas por outros profissionais [...], parentes, e outros, que têm também um efeito psicoterapeutico de apoio ajudando a suportar a ausência da relação psicanalítica. O psicoterapeuta não precisa se sentir um monstro insensível abandonando o paciente à própria sorte.
Quando a mãe deixa o filho pela primeira vez na escola, esse ato pungente é imprescindível para o amadurecimento. Por mais doloroso que seja frustrar o paciente, isso é necessário para levá-lo a descobrir que o psicoterapeuta não compartilha de seu delírio de ser o único capaz de tratá-lo.
Evita assim o convite para regredirem a um momento de vida em que a alucinação da mãe-ideal - ou do peito ideal - eram os únicos objetos com os quais o bebê podia contar para sobreviver aos perseguidores.
A dor da frustração pode levar o paciente a odiar o psicoterapeuta, promover uma desidealização brusca e levar o paciente a abandonar a psicoterapia.
Mas acho preferível correr este risco. A alternativa seria o psicoterapeuta atuar contratransferencialmente acreditando ser o único, sentir-se tentado a ultrapassar os limites do desempenho profissional, expondo-se à probabilidade de prejudicar-se e prejudicar o paciente.
Descobrirá muito tarde que tudo o que ele fizer pelo paciente não poderá evitar a desidealização. Ademais, não deve ser nosso objetivo tornarmo-nos o objeto ideal do paciente. Isso não ajuda a cura, apenas promove a loucura (de ambos).
E, afinal, se o paciente puder suportar a frustração e sustentar o vínculo psicoterápico, perceberá que entre seu delírio persecutório e a realidade há uma diferença, que outras pessoas também são "boas", e que o psicólogo é apenas um ser humano que presta serviços profissionais. Isso frustrará nosso narcisismo, mas será muito benéfico para nossa saúde mental. Inclusive a do paciente." (Ryad Simon)

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